terça-feira, 10 de dezembro de 2013

STRONG


Versos cantados

Existia um tal de bullying lá na minha escola
Eu tinha um namorado que não me dava bola

As aulas eram um tédio eu não estava nem aí
Alguém me convidou na igreja para eu ir

Um menino americano sentou – se do meu lado
Me disse com Jesus você será abençoado

A palavra do Senhor não é de brincadeira
Na vida com Jesus você não anda de bobeira

O menino americano que me disse: Strong
O menino americano que me disse: Strong

O menino americano que me disse:
Strong girl, strong girl, strong girl



segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Fantasmas de Botas



Mudamos para uma nova casa e havia algo que não me cheirava bem. A vila era formada por seis casas pequenas de cada lado e a nossa casa era a maior de todas. Ficava no centro de frente ao portão principal assim formando um quadrilátero. O portão costumava ser fechado logo que batia meia – noite e ninguém poderia entrar ou sair a não ser que carregasse a chave consigo. Ás vezes eu saia com os amigos e chegava de madrugada. Encontrava o portão fechado antes da hora e isso me dava nos nervos. Se eu esquecesse a chave, dormiria na rua.
Perguntei - me por diversas vezes, quem fechava aquele portão.
Os vizinhos estavam sempre andando de um lado para o outro da vila, sorrindo para mim e quando não, acenavam com a mão.
Na nossa casa éramos eu, minha mãe e meu irmão caçula. A casa nos foi deixada de herança por um tio que meu pai desconhecia. Como meu pai veio a falecer, a casa ficou no meu nome. Minha mãe adoentada muito fazia para cuidar de meu irmão caçula enquanto eu saia para trabalhar.
Mas como eu disse: algo não me cheirava bem. Comecei a reparar no dia a dia dos vizinhos: nunca abriam as janelas ou portas e quando estavam abertas, pareciam ser o vento que abria. Durante a noite, ouvíamos bater as portas e não conseguíamos dormir. Reparei também no que vestiam. Eram roupas simples, porém todos calçavam botas. Eram crianças, jovens, velhos, todos usavam botas. Da janela do meu quarto, tudo isso eu pude observar, mas quando dei por mim, encontrava - me no meio da vila por entre as pessoas que andavam de um lado para o outro acenando para mim e distribuindo sorrisos. Saí tão depressa de dentro de casa que nem percebi ter descido as escadas. Num impulso, agarrei uma criança que passava, mas não consegui segura – la. No mesmo gesto tentei agarrar uma senhora e tendo a mesma sensação, um vácuo passou pelas minhas mãos.
- Fantasmas! - pensei.
Virando - me, olhei para a porta de casa, estavam minha mãe e meu irmão de olhos arregalados vendo meu jeito. Por um instante olhando os pés dos dois, me deu a impressão que estavam de botas também, mas foi só impressão. Abracei – os junto ao meu corpo para sentir que estavam ali e puxei os dois por toda a vila até chegarmos para fora do portão bem longe dali. Os dois não entenderam, mas a vila era cheia de fantasmas e todos calçavam botas. Pernoitamos na casa de um parente e no dia seguinte soubemos que a vila seria implodida, porque a vila para minha surpresa, há muitos anos não era habitada, e quem morava na nossa casa era um magnata chamado Frederico Ferreira, que obrigava seus empregados - que moravam na vila - a usar todas as botas que ele fabricava.


Frederico Ferreira tem algo para contar sobre essa história que Felipe contou. Assista ao vídeo e surpreenda -se com o final.


Versos cantados
Felipe contou a história
mas a história não é bem assim
Meu pai fabricava as botas
ele era um homem ruim

Deixava as pessoas descalças
trabalhavam até não ter fim
Não podiam comprar suas botas
ele era um homem ruim

Fantasmas de botas nós somos
mas não é pra ninguém se assustar
Fantasmas de botas voltamos
para esta história explicar

Depois que meu pai morreu
magnata tornei – me sim
Todos riram da minha cara
mas eu não era um homem ruim

Calcei todos meus empregados
agradeceram e felizes ficaram
E todos em minha homenagem
as botas eles usaram

Fantasmas de botas nós somos
mas não é pra ninguém se assustar
Fantasmas de botas voltamos
para esta história explicar

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Sonho de Estela


Versos cantados

De noite, de noite
Eu ouvi pela janela
Gritou meu nome que é Estela
E que queria me amar e me amar

Mas eu
Mas egoísta que eu era
Disse vai embora e não me espera
Porque estou indo viajar e viajar

Voltei
Fico olhando na janela
Aquele homem que dissera
Que queria me amar e me amar

Não sei
Acho que o tempo não espera
Fico olhando na janela
O meu amor voltar

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Dedo - duro


Acabando meu expediente de trabalho sigo até o ponto de ônibus a caminho de casa e no mesmo horário saem os estudantes da Faculdade de Medicina São Virgílio e o ponto fica lotado.
Algo diferente chamou – me a atenção naquele dia. Um dos estudantes trazia nas mãos, um pote de vidro com algo dentro. Parecia um dedo boiando dentro de um líquido e cheirava a formol. O estudante olhava fascinado para o que havia dentro dele. Ele agitava o pote e ás vezes dava a impressão que o pote que agitava ele. Achei esquisito tudo aquilo e resolvi prestar atenção no ônibus que estava para chegar. Para minha surpresa o estudante, pegou o mesmo ônibus que eu. Assim que atravessei a catraca, sentei – me e logo ele veio sentar – se atrás de mim.
- Que azar! – pensei. Aquele cheiro me dava náusea e intrigada olhei para trás. O dedo de dentro do pote de vidro apontava para minha cara. O ônibus em alta velocidade freou bruscamente e o vidro escapando das mãos do rapaz, espatifou – se no chão. Espalhou – se o cheiro de formol pelo ônibus todo. Foi daí que vi o dedo rolar pelo corredor sumindo por entre os bancos e passageiros que estavam de pé. Era uma cena de filme de horror. O rapaz pôs – se a procurar o dedo e não o encontrando, subitamente resolveu descer do ônibus no próximo ponto. Ao chegar a casa, tomei meu banho e jantei. Assisti a um filme e fui deitar, mas antes entrei no banheiro para escovar os dentes, quando vi escrito no espelho com creme dental: OSVALDO MATOU SEU PAI.
O dedo cheio de pasta de dentes estava ao lado da torneira sobre a pia. Num sobressalto, corri ao telefone e liguei para a polícia. Expliquei o caso, mas acharam que se tratava de um trote. Realmente se alguém me contasse essa história eu também não acreditaria. Mesmo assim fui à delegacia levando o dedo enrolado numa toalha.

Atenciosamente, o delegado Júlio ouviu o meu relato e acreditando - porque havia um dedo - duro na história - investigou o caso e descobriu que o dedo era do compadre do meu pai, que depois de ter morrido veio confessar que foi Osvaldo o sócio deles nos negócios, quem matou meu pai. Concluído o inquérito, o corpo de meu pai foi exumado. De fato ele não morreu de enfarto como se pensara. Uma marca em seu pescoço apontou como causa de sua morte: esganadura. Osvaldo foi preso. E se me perguntarem sobre o dedo, foi parar no lugar em que estava, ou seja, na mão do dono. O estudante de medicina sem autorização pelo que fez, foi repreendido e expulso da faculdade desistindo assim, da medicina. E eu continuo as sessões de psicanálise, para entender como tudo isso aconteceu.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Meu irmão, meu filho


"Assim que eu soube que ela estava grávida, 
fui visita – la".
Rogério meu melhor amigo, não me dava sossego enquanto não fosse visitar minha mãe biológica. Soubera há pouco tempo, logo que fiz meus dezoito anos, que não era filha legítima do casal Magalhães, gente da classe alta da sociedade paulistana.
Nada me faltava e naquela tarde no Jockey Club, Rogério me intimou a ir ao encontro dela. Meus pais viajavam com certa freqüência e nada os impedia. Meu pai era muito bem aposentado e minha mãe não lecionava há alguns anos. Ficava sozinha naquela imensa casa. Sozinha não, porque tenho a companhia da minha babá o tempo todo, e do motorista que foi da empresa do meu pai, o senhor Edilson, que me leva a qualquer lugar onde quero e a hora que for. Sozinha sim, no meu íntimo, quando fico na janela do meu quarto vendo o gramado, as luzes que vem do fundo da piscina, quando ando pelo jardim e meus dedos percorrem as hortênsias que minha mãe cuida com tanto carinho.
No meu íntimo, sentia algo diferente, da minha pessoa com meus pais. Sem ambição, não me apegava a nada do luxo que me rodeava. E finalmente, soube que não era filha legítima dos Magalhães.
De certo naquela tarde não saberia o que me esperava. Senhor Edilson encontrava – se com o endereço nas mãos. Chegamos num bairro não muito conhecido da periferia de São Paulo. Saiu o senhor Edilson do carro e batendo palmas no portão, apareceu entre as roupas que estavam dependuradas no varal do quintal da casa, minha mãe. Vendo aquela mulher grávida imaginei quando ela engravidou de mim, sem condições de me sustentar, oferecendo – me para adoção.
Fiquei no carro e ela acenou gentilmente para que eu fosse até ela. Neguei. Ao contrário, pedi para que ela viesse onde eu estava. Mesmo com a ajuda do senhor Edilson, ela sentiu certa dificuldade de andar.
Não era o nosso primeiro encontro. Em outra ocasião, conheci meus avós, os pais dela, que na certa incentivou na época, que algum casal me adotasse, e aconselhando – a que vivesse sua vida. Não sei se vivi a minha, ainda estou com dezoito anos, mas com certeza cuidarei da criança que minha mãe espera, como se fosse meu filho. Sai do carro e corri ao encontro dela. Ela me abraçou e me disse:
- Adriana, preciso de você.

 Ouça, se preferir...

Casaco & Trufas


Eu e Jéssica esperávamos o ônibus quando passou uma senhora muito elegante vestindo um casaco vermelho oferecendo trufas recheadas nos mais diversos sabores. De regime, eu e Jéssica dissemos que “não, obrigada”.
Neste meio tempo observei aquela senhora em seu casaco vendendo trufas, encontrando em seu olhar certo cansaço. Seus dentes eram escuros talvez devido à nicotina do cigarro, e a cor do seu batom combinava com a cor do casaco.
- Que passado teria essa senhora? – perguntei à Jéssica.
- Vai saber se não era uma advogada ou executiva de sucesso.
Meu olhar foi acompanhando os passos dela, que caminhava lentamente. Assim que o semáforo ficou vermelho, ela atravessou a rua, e ao chegar do outro lado da calçada, tudo foi ficando em preto e branco, como nas fotos de antigamente. O modelo do seu casaco lembrava o ano de 1.950.

Minas Gerais, 1.950: Maura, a mulher do casaco vermelho trabalha num escritório de advocacia como secretária. Casa – se com Alberto, um funcionário público. Não tiveram filhos, mas sua melhor amiga pede que ela e Alberto batizem sua filha Sara.

São Paulo, 1.988: Dentro da farmácia,
Maura encontra – se com a moça que ofereceu trufas, no ponto de ônibus. Comenta que ela é parecida com sua afilhada que há muito tempo não a vê. Diz que vende trufas para ganhar algum dinheiro para ajudar a comprar remédios, pois a aposentadoria vai diminuindo a cada ano.
- Você é uma moça muito simpática – disse Maura para mim. Como se chama?
E eu com um sorriso, respondo:
- Sara.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A princesa e o bombeiro

A coordenadora pediu – me que levasse uma jarra de água para os atores que estavam nos bastidores. O teatro estava lotado e o nome da peça intitulava-se: “A princesa e o sapo”.
Meu expediente havia terminado e como em outras vezes, me sentava na plateia para assistir o espetáculo. Eu já conhecia a estória da princesa que beija o sapo e ele vira um lindo príncipe, mas relembrar a nossa infância não deixa a gente ficar velho.
O que não se esperava, aconteceu. A princesa ao se levantar esbarrou o vestido na vela acesa, que estava ao lado da almofada, perto do chão. Assim que o príncipe viu a pequenina chama, saiu todo esbaforido gritando: FOGO! FOGO!
O bombeiro Tenório, sempre de prontidão, pegou o extintor colocado numa das saídas da plateia e apagou a pequena chama.
Ninguém entendeu porque o príncipe saiu correndo da cena e o bombeiro dando risadas em cima do palco, mas o que se sabe é que a princesa lascou um beijo no bombeiro, dizendo:
 
- Meu príncipe encantado.

 Todos vendo a cena se puseram de pé e aplaudiram. Não sei se foi um improviso da atriz, mas acho que a princesa apaixonou – se pelo bombeiro.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Din Din o palhaço


Marcelinho neto do fazendeiro Antônio da Fazenda Passo Fundo, reuniu seus amiguinhos e decidiram montar um espantalho para colocar no meio do milharal. Diferente dos espantalhos que a gente conhece, decidiram montar o espantalho com folhas de papel de jornal. Ele e seus amiguinhos entraram no quarto do vô Antônio e pegaram a calça, o paletó, o cinto e a camisa dele e correram para o meio do milharal juntamente com o monte das folhas de papel de jornal e começaram a encher a roupa dando forma ao espantalho. Bateram uma estaca e amarraram - no com barbante. 

- E a cara dele? – disse Daniel. 

Marcelinho correu até a casa, entrou no quarto novamente e dentro da gaveta havia uma porção de fotos de parentes. Assim, “passou a mão” numa foto que achava que ficava bem como cara de espantalho e levou até o milharal. Com certeza seu avô ficaria muito bravo, pensou ele, mas a brincadeira é o que vale. 

Assim que o espantalho ficou pronto, apontavam para a cara dele e davam gargalhadas até rolarem no chão. Escutaram dona Conceição dizer de longe, que o bolo e o suco estavam na mesa, e puseram – se a correr, ficando longe dali.

O espantalho ficou sozinho no meio daquela imensidão do campo e da plantação de milho. Bateu um vento forte e ele começou a se mexer, mexer, parecia que ia se desmanchar, mas ao contrário do que se pensa, lutou bravamente contra o vento se sentindo forte e mais forte até perceber que estava andando. Refugiou – se debaixo de uma árvore, e quando foi ver já estava à beira da estrada, onde caminhões passavam a toda hora.

- Sai daí seu moleque, quer morrer atropelado – gritou um caminhoneiro.

Ao avistar uma luz, correu até lá. Era um lugar feito de cordas e estacas coberto com uma lona de cor listrada de vermelha e branca. Diferente das crianças que pulavam e gritavam o tempo todo na fazenda, as pessoas jogavam bolinhas para o alto, outras tentavam se equilibrar em fios de nylon, outras se dependuravam se jogando para lá e para cá.
De repente, o espantalho sentiu alguém agarrando seu braço, e perguntou a ele:

- O que você faz aqui?

O espantalho não sabia o que responder. O homem perguntou novamente:

- Você pagou a entrada? Onde esta o seu bilhete?

Novamente o espantalho não soube responder. Então o homem irritado disse: 

- Onde está o seu dinheiro? Sem din din, aqui você não pode ficar.

Mais do que depressa o espantalho se pôs a correr, ficando o circo para trás. Então ele teve uma ideia. Pensou:

- Como as crianças da fazenda davam gargalhadas da minha cara, porque não posso ser um palhaço?

No dia seguinte ele voltou ao circo e se apresentou:

- Meu nome é Din Din, sou palhaço e gostaria de uma oportunidade para trabalhar no seu circo.

O homem que havia agarrado ele pelo braço era o proprietário do circo e logo olhou torto para ele; parecia conhece – lo. Estava desconfiado, achando que já o tivera visto antes, rodopiando por ali. Mesmo assim, o homem, fazendo – se de sonso, resolveu dar – lhe uma chance no circo.
O espantalho apresentou – se junto com os outros palhaços e as crianças davam muitas risadas com o jeito e a cara dele. Hoje ele é a atração principal do circo.


terça-feira, 5 de novembro de 2013

Susto na biblioteca


Naquela manhã de sábado, resolvi dar uma ajeitada no meu guarda – roupa, quando encontrei uma traça dependurada na minha blusa preferida. Então gritei:
- Que nojo!
Bem, mas o que eu quero contar aqui não é sobre a traça encontrada no meu guarda - roupa, mas o que Ana Júlia me contou o que aconteceu na tarde de ontem.
Na biblioteca

Ana Júlia chegou à biblioteca para devolver o livro que havia emprestado há quinze dias. Se ela não o devolvesse, levaria uma multa. São três dias até que a biblioteca empreste outro livro.
Assim que Ana Júlia chegou à recepção, viu um senhor lendo o jornal, aberto sobre a mesa. Logo, o que chamou sua atenção, foi o sapato que ele usava de cor vermelha.
- Deu para ver por debaixo da mesa, atrás da estante – disse ela.
No dia seguinte, ela foi buscar o livro para pesquisa da matéria de comunicação social, quando avistou novamente aquele senhor do sapato vermelho com o mesmo jornal aberto sobre a mesa.
- Fernanda, achei tão estranho, que fui lá ver. Parecia que estava dormindo. Assim que cheguei perto dele estava com os olhos fechados. Percebi por sobre os óculos. Não se mexia. Esquisito. Tive a idéia de esbarrar na cadeira. Não é que a cabeça dele tombou por sobre a mesa e fez o maior barulho: Tum! Levei um susto. Corri pela biblioteca e chamei o guarda, que verificou que o homem parecia estar morto, então chamaram o resgate.
Caí na gargalhada ao ver a cara dela de assustada me contando essa história, mas em tom de seriedade me disse que o homem tinha morrido ali mesmo.
Voltando às traças, bem, vou ter que limpar o meu guarda – roupa.

Sopa do amor


Esta receita você não pode perder.

Abotoaduras de ouro


Senhor Louveira é motorista da família desde meus quatro anos de idade. Minha tia Laura, sempre teve uma queda por ele. Percebi isto, em visita de outros rapazes que a cortejavam.
O senhor Louveira andava muito agitado naquela tarde, porque não achava as abotoaduras que vivia polindo, antes dos passeios com tio Onofre e tia Palmira.
- Finalmente! – respondeu – me quando perguntei se havia achado as abotoaduras.
- Estavam jogadas na porta do meu quarto – disse ele, aborrecido não entendendo o porquê foram parar lá.
O senhor Louveira tem um quarto nos fundos da casa. Praticamente viveu ali sua vida toda, uma vez que veio do interior, moço de tudo, para tentar a vida na grande cidade de São Paulo.
- Com certeza alguém desistiu de rouba – las e desistiu largando – as ali – disse – me ele, apontando o lugar onde as achara.
Não entendi o pensamento que o senhor Louveira de alguém querer rouba – lo. Para mim, ele se esqueceu de coloca – las deixando – as cair de suas mãos.
Assim que ele entrou no seu quarto, fui atrás dele, e seguida abriu o seu guarda – roupa e pegou um velho boné, cortou o forro dele e enfiou as abotoaduras, e fazendo um pequeno embrulho, com o boné mesmo, entregou para mim.
- A única lembrança que tenho de meu pai, são essas abotoaduras de ouro. Guarde – as para mim que um dia, as pedirei de volta.
Como um bem mais precioso que existia na face da terra, levei com cuidado o pequeno embrulho até o meu quarto, trancando – o com chave, na gaveta da minha cômoda.
Assim passaram – se dois meses e nada do senhor Louveira pedir – me de volta as abotoaduras, quando lembrei a ele naquela manhã de garoa fina.
- Bem lembrado. Entregue – me esta noite, quando pedirei a mão de sua tia Laura em casamento.
Fiquei feliz, porém, não estava surpreso, porque se gostavam e não acabaria em outra coisa, senão serem felizes pelo resto das suas vidas.
Agora, senhor Louveira não é mais o motorista da família e também não usa mais as abotoaduras de ouro. Ganhei - as de presente quando fiz meus quinze anos com os dizeres:
“Felipe use essas abotoaduras numa ocasião muito especial de sua vida, porque elas lhe trarão alegria e prosperidade”.
“Seu amigo, e tio Louveira”.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Pote do amor


Marquei uma excursão destas de ir e voltar no mesmo dia, perto mesmo de São Paulo, em São Roque. Adoro estas viagens de fim de semana porque o que me atraí são as feiras de artesanato onde tem de tudo: panos de prato pintados, trabalhos de crochê e tricô, quadros pintados a óleo e trabalhos feitos de madeira. Entramos em uma loja muito conhecida, a loja da Dona Matilde. Naquele dia, ela distribuía souvenires aos excursionistas. Pediu para que escolhêssemos um souvenir por conta da loja, só que teríamos que fazer um cadastro. Logo começou a correria dentro da loja. Agarrei um pote decorado no mesmo instante que um rapaz agarrou também. Olhei para ele, mas não o reconheci como sendo da excursão. Puxei minha mão por baixo da dele e dei as costas, chateada por não levar o pote de lembrança. Também não iria brigar com ele por causa disso.

De volta para casa, dois dias se passaram, quando tocou a campainha. Era a entrega dos Correios.
- Não encomendei nada? – disse ao entregador.
Quando olhei o remetente, estava escrito:
Para: Srta. Amanda de Souza
De: Ricardo Godói
De fato era para mim. Abri a caixa e encontrei o pote que tanto queria ter trazido de lembrança da viagem a São Roque.
Vi o telefone da loja da Dona Matilde etiquetada. Liguei, e a atendente explicou que o senhor Ricardo comprou o pote, pois percebeu que eu fiquei chateada de não levar o pote, o único da loja. Mediante o cadastro, pediu que o enviasse. Pedi o telefone do Ricardo para agradecer a gentileza. Liguei e marcamos um encontro e assim outros surgiram. Começamos a namorar. Logo, pretendemos nos casar, e eu realmente diria:

- Este é o pote do amor.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Vaso misterioso


Assim que cheguei do trabalho, o vaso encontrava - se sobre o móvel da sala onde meu marido o colocou e me disse: 
- Vê se some com isso. 
Encerrou – se o expediente na quinta – feira, e como de costume, antes de pegar o carro no estacionamento, “dei um pulinho” na loja de antiquários. Ali tinha de tudo: tapetes, quadros, estatuetas, vasos. Isso mesmo: uma infinidade de vasos. E naquele dia teve um que me chamou a atenção. Comprei o vaso com o cartão de crédito. Na pressa, disse ao antiquário que entregasse o objeto em minha residência. De certo, meu marido iria ter mais uma briga comigo, pois não gostava que eu fizesse despesas com este tipo de compra, ou seja, ele não suportava “quinquilharias”, espalhadas por toda a casa. Às vezes eu acho que faço compras por impulso, mas é isso que dá sentido à minha vida, e como diz o ditado: “gosto não se discute”. 
Finalmente sexta – feira. Assim que cheguei do trabalho, o vaso se encontrava sobre o móvel da sala onde meu marido o colocou e me disse:
- Vê se some com isso.
Não dei ouvidos. Olhei para o vaso e era ali que iria ficar até perceber algo que meu marido não notara. Como o vaso estava em frente ao espelho que fica dependurado na parede sobre o móvel da sala, notei que não havia o reflexo do vaso no espelho.



Tocou o telefone, era minha sogra. Enquanto falava com ela, tentei acertar o vaso sobre a mobília. Assim que coloquei a mão no vaso, repentinamente quebrou - se, assustando – me. Larguei o telefone no chão. Senti meu sangue correr pelo braço. Fiz um corte profundo na mão. Mesmo o vaso estando quebrado, peguei dele o pedaço onde havia os dizeres do lugar que foi fabricado: 
Transilvânia, região da Romênia – Castelo de Vlad Tepes

 Nota do autor: Vlad Tepes Príncipe da Valáquia conhecido pelas atrocidades contra seus inimigos teria dado inspiração à história de “Conde Drácula”,  romance de 1.897 do escritor irlandês Bram Stoker. 




Versos cantados
 Depois que o vaso quebrou ela emudeceu
Seu marido lhe perguntou o que lhe aconteceu

Mal ela sabia que o Drácula então bebia
O seu sangue abençoado
Para dar a ele cem anos de vida

Mal ela sabia que o Drácula então bebia
O seu sangue abençoado
Para dar a ele cem anos de vida

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Vi e não acreditei


Estava eu dentro da loja vendo a vitrine, quando entrou duas senhoras, uma delas estava com uma bengala, revirava e piscava os olhos freneticamente. Dirigiram – se ao caixa da loja e pediu uma ajuda. A dona da loja aproximou – se e vendo a necessidade das duas decidiu ajuda – las. Pegou alguns trocados do caixa e deu à senhora que enxergava.
As duas senhoras saíram da loja e eu, como nada me agradou na vitrine naquele dia, saí, e quando vi as duas senhoras dividindo na esquina, os trocados que a dona da loja deu a elas, vi e não acreditei.
Morando ali perto, tem uma feira todas às quartas – feiras. Encontrei com aquelas duas senhoras novamente e estavam a escolher laranjas. Quando vi aquela que usava bengala que revirava e piscava os olhos freneticamente escolhendo a fruta, ouvi ela dizer à amiga:
- Você não acha que está muito verde?

Vi e não acreditei.
Passado um tempo, voltei à loja para ver melhor a vitrine, precisava de uma blusa, quando entrou as duas senhoras, e antes que  chegassem ao caixa na intenção de pedir ajuda, perguntei:
- Por acaso não é a senhora que vi escolhendo laranjas outro dia na feira?
Sem graça, saíram as duas da loja, envergonhadas daquilo tudo.
- Sim, senhor! - pensei alto.
A dona da loja perguntou - me se havia acontecido alguma coisa.
Disse então a ela:
- Vi e não acreditei.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Fado fadinho



Versos cantados
Canto um fado padrinho
Canto um fado fadinho
Canto um fado Moreira
Debaixo da laranjeira

Canto um fado José
Danço batendo o pé
Canto esta canção
Portugal do meu coração

Passe o mouse

EXCLUSIVO
Fado fadinho em Portugal 

Skeiti


Vinícius com a mãe na loja
- Mãe, compra meu skeiti?
- Hoje não Vinícius. Ainda tenho que levar você prá escola.
A noite em casa.
- Papai, a mamãe não compra meu skeiti. Você compra prá mim?
- Pede pro Papai Noel.
Vinícius no quarto.
Papai Noel, eu quero um skeiti”.

Vinícius tenta estudar matemática mas as equações não entram na cabeça dele, por mais que ele decore as fórmulas. Olha para o canto e vê o skate, as joelheiras e o capacete e lembra de como era feliz. Agora às portas do vestibular, prestes a entrar na faculdade, a possibilidade de andar novamente com seus amigos pelas ruas ou na pista, era quase nula.
- Sem chance – disse a si mesmo, consciente que precisava estudar e passar no vestibular. Cismou que queria fazer a faculdade de TI, porque todos seus amigos estavam nessa. Só que não dá para imaginar Vinícius fazendo exatas, porque é preciso muitos cálculos e ele não era bom de matemática. Enfim...
Finalmente passou no vestibular. E no primeiro ano, trancou a matrícula, desistindo do curso.
Seus pais decidiram que ele iria trabalhar.
- Em quê? - perguntou Vinícius.
- Você vai trabalhar no banco onde meu amigo é gerente. Já falei com Fábio e você vai trabalhar no atendimento.
Vinícius sem opção, aceitou a proposta do pai. Não é que ele se deu bem? Gostou da área e resolveu fazer faculdade de ciências contábeis e financeira.
- Mas e os cálculos? – pensou.
Até não decidir o que estudar, voltou ao seu skate.
Conversando com os amigos na pista, Vinícius reencontrou um velho amigo, João Victor. Conversaram, lembraram de como curtiam a manobra que faziam e os tombos que levaram. Riram os dois.  
- Só que não dá mais – disse João Victor.
- É. O tempo passa pra todo mundo e hoje penso em abrir uma loja.
- Você sabe que o meu tio tá nessa de empreendedorismo?
- Se quiser fala pra ele vir falar comigo.
E não é que deu certo? O tio de João Victor com negócio de vender meias e cuecas e a criatividade de Vinícius sempre tivera nas pistas com suas manobras, resolveram abrir uma loja, dar um nome, criar uma marca que pudesse atender a galera que sempre curtiu.
- Mas que nome? Peraí – pensou Vinícius.
Correu até seu quarto, procurou a cartinha guardada todos estes anos em que ele havia pedido seu skate ao Papai Noel e disse:
- O nome da loja será este: SKEITI.
 Isso mesmo caro leitores. Vinícius acertou. O nome da loja e da confecção própria de meias e cuecas.
Hoje Vinícius é um grande empresário e sua esposa espera seu primeiro filho. Adivinha o que ele comprou mesmo antes do moleque nascer?
Ah... esse Vinícius...

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Truque descoberto


 “Alguém da platéia se habilita a entrar nesta caixa?”

Duas semanas antes

Antônio Luís de Souza, Gerardí o grande mágico como era chamado, se prepara para mais um número apresentado pelo Circo Ciranda na cidade de Marília no interior de São Paulo, quando bateram à porta do seu camarim:

- Senhor Gerardí, uma carta.

Antônio esperava que fosse a carta que o remeteria diretamente à cidade de Las Vegas nos Estados Unidos da América, num contrato milionário para participar de shows, numa temporada de um ano.
Abriu a carta e estava escrito:


 
Antônio nunca soube como sua tia Cenira descobriu seu endereço, pois vida de circo, ninguém tem moradia fixa.

- E agora? – pensou em voz alta.

Bateram à porta do camarim:

- Está na hora – avisou sua assistente de palco
 Nara, a japonesa.


Antônio jogou a carta entre os diversos estojos de maquiagem, e foi apresentar o seu número de mágica. No dia seguinte já estava disposto a viajar para a capital, onde Tia Cenira morava. Chegaria ao entardecer e colocaria seu plano em ação. Tudo foi muito rápido: o chá da tarde com bolachas o ajudariam a acabar com o pouco que restava da saúde de Tia Cenira. Sozinha e desamparada, seria fácil acabar com ela não deixando que ela atrapalhasse a sua viagem à Las Vegas. Não deu outra.
Após envenena – la esperou anoitecer e realizou a maior mágica de sua vida: desaparecer com o corpo de Tia Cenira.
Com a van preta dentro da garagem desde que chegara, não foi difícil coloca – la dentro da caixa que usou nas apresentações de desaparecimentos.  A caixa já se encontrava, velha e rachada; e dentro de um rio, sucumbiria rapidamente, e Tia Cenira desapareceria para sempre.
Seu plano correu bem. Em duas semanas já estaria longe e quem sabe, não voltaria mais ao Brasil. A carta tão esperada chegou. Estava na hora de fazer as malas, mas não antes do último número de mágica logo a noite:

“Alguém da plateia se habilita a entrar nesta caixa?”

A mágica é aquela que todos conhecem. Entra uma pessoa na caixa da qual é fechada e após alguns segundos, a pessoa que entrou desaparece dando lugar à outra, no caso a assistente de palco Nara, a japonesa, linda mulher, bem maquiada, graciosa e cheias de paetês que quando bate a luz, brilha e ela fica com ar de poderosa.
O que não se esperava, é que no lugar de Nara, a japonesa, aparecesse Alfredo Rodrigues, o famoso delegado, muito visto nos noticiários de televisão. Com seu distintivo de delegado de polícia apontando para o nariz de Antônio, anunciou:

- Senhor Girardí, o senhor está preso.

Os shows do grande mágico terminaria ali mesmo naquela noite.

Meu amigo Ricardo


Ricardo não me deixava andar em seu triciclo vermelho e branco. Quando chegava perto, ele me empurrava e até me chutava.
Quando ele ganhou o peão me deixou que eu brincasse apenas uma vez.
Às vezes brincávamos juntos, pois as bolinhas de gude tanto minhas quanto as dele, nos unia.
Assim que ganhou seu brinquedinho de apaches e soldados, as brigas já não eram tantas, somente entre apaches e soldados.
Logo, Ricardo ganhou seu vídeo game. Raro era irmos à escola juntos, depois que a mãe de Ricardo contratou uma perua escolar. Ele entrou também no colégio particular e isso nos afastou.
Frequentei o curso noturno e me formei no colegial.
Soube que Ricardo joga vídeo game até hoje, não trabalha e anda de ônibus.
Trabalhando em meu primeiro emprego, dei entrada no meu carro e estou cursando a faculdade.
Como essa vida é engraçada. Meu amigo Ricardo, não me deixava andar no seu triciclo. Hoje, eu ando de carrão.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Carolina 1, 2, 3



Versos Cantados
Vou contar uma história
E esta história é da vez
Da menina Carolina
Que contava até 3

Contava os seus dedinhos 1, 2, 3
Pulava amarelinha 1, 2, 3

Carolina é da vez
De repente ela cresceu
Era ruim de matemática
Mas namorado teve 3

Ela ia ao cinema com 1,2, 3
Ela dançava na balada com 1, 2, 3

Ela amadureceu
E a vida quis mudar
Escolheu o número 3
Para poder se casar

No salão dançaram a valsa 1, 2, 3
Ela jogou o seu buquê 1... 2...3...

Carolina engravidou
E no parto ela sofreu
Mas os filhos ela teve
De uma vez teve 6

João, José e Mariana 1, 2, 3
Carlos, Luís e Adriana 4, 5, 6

Carolina quis mudar
Resolveu estudar
E aprendeu a contar
Para poder passar dos 6

Ela pintava seu cabelo 1, 2, 3
Tratava os filhos com esmero 4, 5, 6

Depois que ela estudou
Sua idade ela contou
Ela viveu como ninguém
Ela contou até os 100

Corretora de ilusões

Eu e meu marido fizemos amor naquela noite. No dia seguinte tinha uma viagem marcada para fechar uma venda de um apartamento nas proximidades da Barra da Tijuca na cidade do Rio de Janeiro.
Já estava com a mala pronta do lado da cama. A alça estava ao meu alcance, poderia toca – la se quisesse, estava anciosa.
Meu marido desempregado e as contas aumentando, não poderia perder essa oportunidade.
Levantei – me, tomei meu banho, ouvi de lá debaixo, Dulcinéia bater a louça do café. Desci. A mesa já estava posta, dei bom dia a ela, tomei um gole de café e saí porta a fora, sabendo que no dia seguinte estaria de volta.
Receberia uma boa comissão. Pedi para ser escalada para essa viagem. Muitos corretores gostariam de estar em meu lugar. A comissão era boa.
Consegui fechar o negócio.
Olhei para o mar e sem chance de dar uma “entradinha”, não deu tempo. Retornei de volta a São Paulo.
Assim que cheguei em casa, Dulcinéia passava aspirador de pó no sofá. Anunciou que minha prima Carla havia chegado ontem à noite:

- Dona Angélica, sua prima subiu e não desceu mais.
- E o Marcos?                        
- Não vi ele descer desde ontem e até agora ninguém desceu. Sei não!

O “sei não” da Dulcinéia me deixou com a pulga atrás da orelha.
Subi as escadas e já no último degrau não precisei dar nem mais um passo. Vi no reflexo do espelho dependurado no hall de entrada do quarto, os dois deitados na minha cama.
Desci as escadas e disse à Dulcinéia:

- Por favor, me sirva o café.

São Paulo - Morumbi


                        
           Jogadas igual as dele

                                                     Belas pernas, nunca vi

            Se hoje sou são paulina
  
                           Foi por causa do Raí.

 Lúcia Fátima

Tia Cecília


Chegou a minha casa, Tia Cecília. Sentou – se à mesa para tomarmos um café. Ela não tirava o celular da frente de seu rosto, pois só enxergava as mensagens vindas do celular, tanto que eu nem se quer enxergava a cor do seu batom. Começamos a tomar o café e ela não parava de enviar mensagens, e eu, já no primeiro corte do queijo branco, pensei arrancar – lhe da mão aquele objeto.
Tempos depois, casei e tive dois filhos.
As crianças foram para a escola, e tranquila com os afazeres da casa, convidei tia Cecília para tomar um café comigo, em casa mesmo, e não no shopping como às vezes costumávamos tomar café.

Tia Cecília chegou com seu celular, sentou – se à mesa, começou a ver e passar as mensagens.Quando as crianças chegaram da escola, tia Cecília se assustou e perguntou admirada:
- Sara, quem são essas crianças?!
No qual eu respondi:
- Tia Cecília, são os meus dois filhos!