terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Dedo - duro


Acabando meu expediente de trabalho sigo até o ponto de ônibus a caminho de casa e no mesmo horário saem os estudantes da Faculdade de Medicina São Virgílio e o ponto fica lotado.
Algo diferente chamou – me a atenção naquele dia. Um dos estudantes trazia nas mãos, um pote de vidro com algo dentro. Parecia um dedo boiando dentro de um líquido e cheirava a formol. O estudante olhava fascinado para o que havia dentro dele. Ele agitava o pote e ás vezes dava a impressão que o pote que agitava ele. Achei esquisito tudo aquilo e resolvi prestar atenção no ônibus que estava para chegar. Para minha surpresa o estudante, pegou o mesmo ônibus que eu. Assim que atravessei a catraca, sentei – me e logo ele veio sentar – se atrás de mim.
- Que azar! – pensei. Aquele cheiro me dava náusea e intrigada olhei para trás. O dedo de dentro do pote de vidro apontava para minha cara. O ônibus em alta velocidade freou bruscamente e o vidro escapando das mãos do rapaz, espatifou – se no chão. Espalhou – se o cheiro de formol pelo ônibus todo. Foi daí que vi o dedo rolar pelo corredor sumindo por entre os bancos e passageiros que estavam de pé. Era uma cena de filme de horror. O rapaz pôs – se a procurar o dedo e não o encontrando, subitamente resolveu descer do ônibus no próximo ponto. Ao chegar a casa, tomei meu banho e jantei. Assisti a um filme e fui deitar, mas antes entrei no banheiro para escovar os dentes, quando vi escrito no espelho com creme dental: OSVALDO MATOU SEU PAI.
O dedo cheio de pasta de dentes estava ao lado da torneira sobre a pia. Num sobressalto, corri ao telefone e liguei para a polícia. Expliquei o caso, mas acharam que se tratava de um trote. Realmente se alguém me contasse essa história eu também não acreditaria. Mesmo assim fui à delegacia levando o dedo enrolado numa toalha.

Atenciosamente, o delegado Júlio ouviu o meu relato e acreditando - porque havia um dedo - duro na história - investigou o caso e descobriu que o dedo era do compadre do meu pai, que depois de ter morrido veio confessar que foi Osvaldo o sócio deles nos negócios, quem matou meu pai. Concluído o inquérito, o corpo de meu pai foi exumado. De fato ele não morreu de enfarto como se pensara. Uma marca em seu pescoço apontou como causa de sua morte: esganadura. Osvaldo foi preso. E se me perguntarem sobre o dedo, foi parar no lugar em que estava, ou seja, na mão do dono. O estudante de medicina sem autorização pelo que fez, foi repreendido e expulso da faculdade desistindo assim, da medicina. E eu continuo as sessões de psicanálise, para entender como tudo isso aconteceu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário