quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Casaco & Trufas


Eu e Jéssica esperávamos o ônibus quando passou uma senhora muito elegante vestindo um casaco vermelho oferecendo trufas recheadas nos mais diversos sabores. De regime, eu e Jéssica dissemos que “não, obrigada”.
Neste meio tempo observei aquela senhora em seu casaco vendendo trufas, encontrando em seu olhar certo cansaço. Seus dentes eram escuros talvez devido à nicotina do cigarro, e a cor do seu batom combinava com a cor do casaco.
- Que passado teria essa senhora? – perguntei à Jéssica.
- Vai saber se não era uma advogada ou executiva de sucesso.
Meu olhar foi acompanhando os passos dela, que caminhava lentamente. Assim que o semáforo ficou vermelho, ela atravessou a rua, e ao chegar do outro lado da calçada, tudo foi ficando em preto e branco, como nas fotos de antigamente. O modelo do seu casaco lembrava o ano de 1.950.

Minas Gerais, 1.950: Maura, a mulher do casaco vermelho trabalha num escritório de advocacia como secretária. Casa – se com Alberto, um funcionário público. Não tiveram filhos, mas sua melhor amiga pede que ela e Alberto batizem sua filha Sara.

São Paulo, 1.988: Dentro da farmácia,
Maura encontra – se com a moça que ofereceu trufas, no ponto de ônibus. Comenta que ela é parecida com sua afilhada que há muito tempo não a vê. Diz que vende trufas para ganhar algum dinheiro para ajudar a comprar remédios, pois a aposentadoria vai diminuindo a cada ano.
- Você é uma moça muito simpática – disse Maura para mim. Como se chama?
E eu com um sorriso, respondo:
- Sara.

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