Cheguei
a minha casa tarde da noite, minha mãe encontrava—se sentada à
mesa, na sala de jantar, olhando meu velho álbum de fotos.
— Mãe
eu não sei como a senhora não se cansa de ver essas fotos antigas.
— Viu
você aqui na praia com seus primos? Você estava tão bonitinha com
o maiô que a Aninha
te emprestou, só porque
você esqueceu o seu em casa.
Lembra?
E
era toda a vez assim. Mamãe
pegava o meu álbum
de fotografia, para
recordar a minha infância, que eu não estava
afim de lembrar.
Fui
direto para o meu quarto, me despi e entrei debaixo
do chuveiro. Um lanche me esperava
na cozinha como sempre. Vesti a camisola e ouvi da sala, meu pai
avisar:
— Vou
dar um passeio com a Thaty
e já volto.
Já
era tarde para dar uma volta com a minha cadelinha, mas com o calor
que fazia ninguém aguentava ficar dentro de casa, até que ouvi um
barulho que vinha da escada.
A
Thaty
apareceu na porta da cozinha, quando sorri para
ela e falei:
— Oi
Thaty
minha linda. Tomou
bainho hoje?!
Poucos
segundos se passaram e me dei conta que meu pai não estava com ela.
Corri até o quintal e vi meu pai
estirado no último degrau da escada. Não sei como percorrendo os
vinte e três degraus da casa, já estava do lado dele tentando virá
– lo de barriga para cima. Não pude fazer nada. Meu pai não mais
respirava.
Alguns
meses se passaram e agora era eu quem estava sentada à mesa, na sala
de jantar, vendo meu álbum das fotos de infância.
Lentamente
fui virando as páginas e reparei que meu pai não estava em nenhuma
das fotos, mas lembro do seu rosto escondido por detrás da câmera
fotográfica, com um olho aberto outro fechado, focalizando meu
rosto, pedindo para que eu sorrisse e
dizendo:
— Olha
o passarinho...
Minha
foto de
infância com 10 anos de
idade, tirada
pelo fotógrafo
da família, meu pai Everaldo
da Silva, falecido
no ano de 1988.