terça-feira, 24 de setembro de 2013

Truque descoberto


 “Alguém da platéia se habilita a entrar nesta caixa?”

Duas semanas antes

Antônio Luís de Souza, Gerardí o grande mágico como era chamado, se prepara para mais um número apresentado pelo Circo Ciranda na cidade de Marília no interior de São Paulo, quando bateram à porta do seu camarim:

- Senhor Gerardí, uma carta.

Antônio esperava que fosse a carta que o remeteria diretamente à cidade de Las Vegas nos Estados Unidos da América, num contrato milionário para participar de shows, numa temporada de um ano.
Abriu a carta e estava escrito:


 
Antônio nunca soube como sua tia Cenira descobriu seu endereço, pois vida de circo, ninguém tem moradia fixa.

- E agora? – pensou em voz alta.

Bateram à porta do camarim:

- Está na hora – avisou sua assistente de palco
 Nara, a japonesa.


Antônio jogou a carta entre os diversos estojos de maquiagem, e foi apresentar o seu número de mágica. No dia seguinte já estava disposto a viajar para a capital, onde Tia Cenira morava. Chegaria ao entardecer e colocaria seu plano em ação. Tudo foi muito rápido: o chá da tarde com bolachas o ajudariam a acabar com o pouco que restava da saúde de Tia Cenira. Sozinha e desamparada, seria fácil acabar com ela não deixando que ela atrapalhasse a sua viagem à Las Vegas. Não deu outra.
Após envenena – la esperou anoitecer e realizou a maior mágica de sua vida: desaparecer com o corpo de Tia Cenira.
Com a van preta dentro da garagem desde que chegara, não foi difícil coloca – la dentro da caixa que usou nas apresentações de desaparecimentos.  A caixa já se encontrava, velha e rachada; e dentro de um rio, sucumbiria rapidamente, e Tia Cenira desapareceria para sempre.
Seu plano correu bem. Em duas semanas já estaria longe e quem sabe, não voltaria mais ao Brasil. A carta tão esperada chegou. Estava na hora de fazer as malas, mas não antes do último número de mágica logo a noite:

“Alguém da plateia se habilita a entrar nesta caixa?”

A mágica é aquela que todos conhecem. Entra uma pessoa na caixa da qual é fechada e após alguns segundos, a pessoa que entrou desaparece dando lugar à outra, no caso a assistente de palco Nara, a japonesa, linda mulher, bem maquiada, graciosa e cheias de paetês que quando bate a luz, brilha e ela fica com ar de poderosa.
O que não se esperava, é que no lugar de Nara, a japonesa, aparecesse Alfredo Rodrigues, o famoso delegado, muito visto nos noticiários de televisão. Com seu distintivo de delegado de polícia apontando para o nariz de Antônio, anunciou:

- Senhor Girardí, o senhor está preso.

Os shows do grande mágico terminaria ali mesmo naquela noite.

Meu amigo Ricardo


Ricardo não me deixava andar em seu triciclo vermelho e branco. Quando chegava perto, ele me empurrava e até me chutava.
Quando ele ganhou o peão me deixou que eu brincasse apenas uma vez.
Às vezes brincávamos juntos, pois as bolinhas de gude tanto minhas quanto as dele, nos unia.
Assim que ganhou seu brinquedinho de apaches e soldados, as brigas já não eram tantas, somente entre apaches e soldados.
Logo, Ricardo ganhou seu vídeo game. Raro era irmos à escola juntos, depois que a mãe de Ricardo contratou uma perua escolar. Ele entrou também no colégio particular e isso nos afastou.
Frequentei o curso noturno e me formei no colegial.
Soube que Ricardo joga vídeo game até hoje, não trabalha e anda de ônibus.
Trabalhando em meu primeiro emprego, dei entrada no meu carro e estou cursando a faculdade.
Como essa vida é engraçada. Meu amigo Ricardo, não me deixava andar no seu triciclo. Hoje, eu ando de carrão.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Carolina 1, 2, 3



Versos Cantados
Vou contar uma história
E esta história é da vez
Da menina Carolina
Que contava até 3

Contava os seus dedinhos 1, 2, 3
Pulava amarelinha 1, 2, 3

Carolina é da vez
De repente ela cresceu
Era ruim de matemática
Mas namorado teve 3

Ela ia ao cinema com 1,2, 3
Ela dançava na balada com 1, 2, 3

Ela amadureceu
E a vida quis mudar
Escolheu o número 3
Para poder se casar

No salão dançaram a valsa 1, 2, 3
Ela jogou o seu buquê 1... 2...3...

Carolina engravidou
E no parto ela sofreu
Mas os filhos ela teve
De uma vez teve 6

João, José e Mariana 1, 2, 3
Carlos, Luís e Adriana 4, 5, 6

Carolina quis mudar
Resolveu estudar
E aprendeu a contar
Para poder passar dos 6

Ela pintava seu cabelo 1, 2, 3
Tratava os filhos com esmero 4, 5, 6

Depois que ela estudou
Sua idade ela contou
Ela viveu como ninguém
Ela contou até os 100

Corretora de ilusões

Eu e meu marido fizemos amor naquela noite. No dia seguinte tinha uma viagem marcada para fechar uma venda de um apartamento nas proximidades da Barra da Tijuca na cidade do Rio de Janeiro.
Já estava com a mala pronta do lado da cama. A alça estava ao meu alcance, poderia toca – la se quisesse, estava anciosa.
Meu marido desempregado e as contas aumentando, não poderia perder essa oportunidade.
Levantei – me, tomei meu banho, ouvi de lá debaixo, Dulcinéia bater a louça do café. Desci. A mesa já estava posta, dei bom dia a ela, tomei um gole de café e saí porta a fora, sabendo que no dia seguinte estaria de volta.
Receberia uma boa comissão. Pedi para ser escalada para essa viagem. Muitos corretores gostariam de estar em meu lugar. A comissão era boa.
Consegui fechar o negócio.
Olhei para o mar e sem chance de dar uma “entradinha”, não deu tempo. Retornei de volta a São Paulo.
Assim que cheguei em casa, Dulcinéia passava aspirador de pó no sofá. Anunciou que minha prima Carla havia chegado ontem à noite:

- Dona Angélica, sua prima subiu e não desceu mais.
- E o Marcos?                        
- Não vi ele descer desde ontem e até agora ninguém desceu. Sei não!

O “sei não” da Dulcinéia me deixou com a pulga atrás da orelha.
Subi as escadas e já no último degrau não precisei dar nem mais um passo. Vi no reflexo do espelho dependurado no hall de entrada do quarto, os dois deitados na minha cama.
Desci as escadas e disse à Dulcinéia:

- Por favor, me sirva o café.

São Paulo - Morumbi


                        
           Jogadas igual as dele

                                                     Belas pernas, nunca vi

            Se hoje sou são paulina
  
                           Foi por causa do Raí.

 Lúcia Fátima

Tia Cecília


Chegou a minha casa, Tia Cecília. Sentou – se à mesa para tomarmos um café. Ela não tirava o celular da frente de seu rosto, pois só enxergava as mensagens vindas do celular, tanto que eu nem se quer enxergava a cor do seu batom. Começamos a tomar o café e ela não parava de enviar mensagens, e eu, já no primeiro corte do queijo branco, pensei arrancar – lhe da mão aquele objeto.
Tempos depois, casei e tive dois filhos.
As crianças foram para a escola, e tranquila com os afazeres da casa, convidei tia Cecília para tomar um café comigo, em casa mesmo, e não no shopping como às vezes costumávamos tomar café.

Tia Cecília chegou com seu celular, sentou – se à mesa, começou a ver e passar as mensagens.Quando as crianças chegaram da escola, tia Cecília se assustou e perguntou admirada:
- Sara, quem são essas crianças?!
No qual eu respondi:
- Tia Cecília, são os meus dois filhos!

Embarquei numa furada.


Esperávamos por mais um frasco azul que vinha do laboratório Smerc, para que o ar que respirávamos se tornasse menos poluído e mais respirável.
Verificávamos as entradas de ar que para mim pareciam canos de esgoto e saídas de água, o depósito que para mim parecia lixo reciclável. Mas quando o frasco azul chegava, era notícia em todo o lugar. Dava até briga entre a gente por causa do frasco.
Dentre muitos frascos azuis que havia no depósito, achei pedaços de papel, inclusive um que estava escrito que eu sairia dentro de duas semanas.
E a rotina continuava naquele lugar todo branco, com pessoas vestidas de branco, o ar fresco, cheiro bom que vinha do frasco azul. Ás vezes aparecia pessoas diferentes, e isso era motivo de festa, pois distribuíam balas e chocolates.
Quando sentíamos que o ar não era tão respirável, verificávamos no depósito se havia o frasco azul, víamos nas entradas de ar, e assim passava o nosso tempo na correria para lá e para cá, atrás do frasco azul. Quando não, rolavam no chão, chutávamos o frasco azul como se fosse uma bola. E nos divertíamos. Orávamos pela manhã e fumaças saídas de incensos com cheiro de lavanda, nos dava ânimo.
Chegou o homem de branco e disse que eu já podia ir embora.

- E o frasco azul? – perguntei a ele.

- Veja – disse ele apontando para o portão.

Meus pais me esperavam. Explicaram – me que sofri um acidente na volta do sítio do meu avô, e que me trouxeram para cá, nesta clínica psiquiátrica, pois não havia outro hospital por perto.

Foi daí que dei conta, dentre outras coisas, que o frasco azul era nada mais nada menos que um produto de limpeza.

“Constance Hortifruti”


Jaqueline levantou – se, tomou seu café e saiu para cavalgar naquela manhã de sol. Estava bom para isso. O calor fez com que ela descesse do cavalo para tomar um pouco de água do riacho quando sua vista escureceu. Jaqueline desmaiou ali mesmo.
Passava um rapaz do M.T.L. (movimento terra livre), que haviam invadido a fazenda de seu pai, avistou o corpo estendido à beira do riacho, viu que era o corpo de uma moça e que havia levado um tiro. Logo colocou – a no selim do cavalo de Jaqueline, mesmo porque, ele estava a pé. Foi direto para o acampamento, mas nada puderam fazer a não ser leva - la ao hospital.
Debandaram imediatamente da fazenda, o mais rápido possível, pois o fato de certo recairiam sobre eles, os do movimento terra livre. Inclusive para eles, Jaqueline já estava morta.
Com o sumiço de Jaqueline, que não tinha nem 6 horas, seu pai colocou os capatazes da fazenda para procura – la.
Dois dias se passaram e descobriram Jaqueline no hospital da região. Encontrava - se inconsciente, mas seu estado era estável.
Exames foram feitos e até Jaqueline não voltar a seu estado consciente, descobriram o calibre da arma, no caso 38, e mais curioso, no seu exame de sangue foi detectado um material parecido com saliva de cachorro.
De fato, Jaqueline nos seus 13 anos, foi atacada por um cachorro, mas por mais que perguntasse a ela, que tipo de cachorro ela havia sido mordida, não soubera responder, ficando o caso de lado. Mesmo assim descobriu possivelmente ser a saliva de um rottwelier, o cão mais violento da região.
O pai de Jaqueline começou a analisar os fatos:
1º. – O único proprietário que andava armado era Antônio da Fazenda Onofre, por coincidência inimigo dele, por querer um pedaço de terra de sua fazenda alegando medidas e cálculos que não tinham fundamento.
2º. – O cachorro, não, os cachorros que Antônio tinha na época eram todos da raça rottweiller.
“Não, não pode ser” – pensou o pai de Jaqueline.
De fato, a única riqueza que o pai de Jaqueline tinha na sua vida, era sua filha. E por mais que doesse em Antônio, que o pedaço de terra de sua fazenda, nunca seria dele, doeria nele perder a filha.
Investigações foram feitas e Antônio foi preso.
Jaqueline saiu do coma, recobrou a consciência. Recebeu uma visita naquele dia mesmo: o rapaz que a socorreu. E muitas visitas, ele fez à fazenda do pai de Jaqueline. Casaram - se. O pai de Jaqueline deu um pedaço de terra da fazenda, aquele mesmo pedaço que Antônio cobiçava. O rapaz plantou verduras e frutas, chamou alguns homens do movimento terra livre para trabalhar em sua terra. O negócio cresceu, e em homenagem a Jaqueline Constance, ele deu o nome ao negócio de “Constance Hortifruti”.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Vestido bonito


Nunca ganhei o suficiente para comprar um vestido bonito.
Toda vez passava pela vitrine antes de entrar para o trabalho,
mas naquela manhã coloquei na minha cabeça que iria comprar o vestido. Nem que precisasse pedir dinheiro emprestado, aquele vestido, já era meu.

Os dias passavam e o vestido estava lá. Preto e cheio de pedrinhas que brilham, não há mulher que resista. Entrou na loja uma senhora e pediu para experimentar o vestido. VI TUDO. Desde quando ela o vestiu até quando balançou a cabeça em sinal de que o vestido havia ficado bom.

O vestido bonito foi encaminhado ao setor de pacotes enquanto ela passava o cartão de crédito. Não acreditei quando vi o vestido sendo dobrado
delicadamente, embrulhado em papel de seda cheiroso e colocado dentro da caixa, para ser levado pela cliente, na sacola com o logotipo da loja.

Nunca ganhei o suficiente para comprar um vestido bonito.

Meu nome é Rose, sou vendedora da loja.
- A senhora já foi atendida?

Júlia esclarece o mistério.


No dia seguinte, Marcos, eu e o professor passamos o dia todo em cima da caixa postal e cada um que passava não entendia o que estava acontecendo, quando passou a faxineira dos correios, muito curiosa perguntou o que estávamos procurando. 
Brevemente relatei o fato e ela me disse que andou limpando as caixas do correio, que o pó dourado era da sua maquiagem e a gosma, foi um espirro que ela deu porque estava resfriada.

O caso estava quase que encerrado, se não fosse pela mensagem:

“Sou viajante do espaço e faço pesquisa sobre literatura. Gostei da linguagem do povo brasileiro e descobri pela internet o blog onde Lúcia Fátima escreve historinhas. Assim como meu planeta, Lúcia Fátima escreve com o coração e o espírito das crianças, jovens e mais velhos”.
Viajante do espaço.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Professor Afonso

A história “Viajante do espaço” é um pouco mais complicada porque se trata de uma trilogia: “Viajante do espaço”, "Professor Afonso” e “Júlia esclarece o mistério”. Portanto, assim como na história “Caixinha de veludo vermelho”, não leia esta história “Professor Afonso” antes de ler o “Viajante do espaço”.
Obrigada.
Lúcia Fátima

Professor Afonso, pegou a peça delicadamente para não quebra – la e colocou dentro de um saco plástico.
- O que quer dizer esses hieróglifos*, professor? – perguntou Marcos.
 (*) Cada um dos sinais da escrita pictográfica dos antigos egípcios e de outros povos, como os maias.
- São símbolos, e levaram algum tempo para saber do que se trata - disse o professor.
- Professor, eu já vi isso no meu computador – falei.
- E o que são estas marcas? Veja professor, este pó dourado e essa gosma. Que nojo!... – disse Marcos chamando a atenção do professor.
- Seria um monstro de outro planeta, dourado e cheio de gosma? – perguntou o professor, dando risada.
Professor Afonso chamou o responsável pela agência dos correios e pediu que não deixasse ninguém usar aquela caixa postal até segunda ordem. Pediu também a lista de todas as pessoas que usaram anteriormente aquela caixa postal.
Júlia assim que chegou ao Centro Aeroespacial, pegou o tablete feito de argila, com letras manuscritas e com o scanner, digitalizou e jogou no editor de texto.

Você seria capaz de traduzir a mensagem? Leia o final da história “O viajante do espaço” na próxima história: Júlia esclarece o mistério”.






terça-feira, 3 de setembro de 2013

Viajante do espaço


Centro Aeroespacial de São José dos Campos - SP
Marcos cochilava na frente do computador quando ouviu através do headphone, os sinais emitidos do espaço após duas semanas de espera.
- Júlia, ouvi os sinais – gritou alucinado.
Marcos gritava para todo o Centro Aeroespacial que tinha ouvido aquele barulho, mas para mim, não significava nada.
- Agora gravei, ouça. “ Tá tá tá tá tá, tá tá tá ti tá”
- Meu Deus, o que é isso? – arregalei os olhos espantada, e achei que o Marcos endoidecera de vez.
- Isto é MÚSICA – ele disse.
- Sei, já vi isso num filme.
- Júlia, eu acho que são notas musicais.
- Tá bem. Chamarei o maestro Carlos Almeida para decifrar estas notas ou o que quer que seja.
Nosso professor de física e matemática, senhor Afonso, também se dispusera a ajudar. No dia seguinte estávamos eu, o professor e o maestro.
As notas musicais eram: "Dó ré mi fá sol lá si bemol".
Não é que o professor somou a métrica da música com cálculos matemáticos e resultou em: CO 317236.
Rodrigo, o carteiro passava para deixar as correspondências na minha mesa quando ouviu o que fora dito e falou que as letras e o número, poderiam ser de uma caixa postal. Dei muita risada daquilo tudo.
Localizamos a agência que era de um bairro próximo à capital. Abrimos a referida caixa postal e encontramos um tablete feito de argila, com letras esculpidas:

Que mensagem o Viajante do Espaço teria escrito neste pedaço de barro? Todo este mistério será desvendado na próxima história: Professor Afonso.