Bruna C., patricinha.
É assim como chamam Bruna no colégio. Ela se levantou da cama naquela sexta -
feira fazendo a maior bagunça no quarto. Quem a vê, pensa que ela é uma pessoa
organizada, toda ajeitadinha, mas adora fazer uma baguncinha, como diz a mãe dela, dona Jussara. Mas o que todos não
sabem, é que apenas cinco números mudaria o jeito de ser de Bruna C., a
patricinha.
-
Quem diria?! – disse a mãe da Bruna em tom irônico.
-
É, mas temos que dar um jeito na vida desta garota – disse o senhor Cintra,
disposto a mudar radicalmente a vida da pequena Bruna. Pequena por ser uma
menina frágil, quase sem apetite, disposta a não engordar para manter sua forma
física, talvez por vaidade ou para não ficar igual às amiguinhas da escola que
se empanturram com as guloseimas da cantina ou fins de semana nas lanchonetes
dos shoppings. Que não conseguem durante as aulas de educação física, dar uma
corridinha em volta da quadra, que logo se cansam. Ela não.
Bruna
só bebe suco natural, não toma refrigerante de maneira alguma. No momento,
Bruna frequenta aulas de tênis e desfila no apartamento, que tem um espelho
enorme no corredor para ela se exibir - para
ela mesma – os looks, que ela combina em cores e estilos: de rock, punk,
gótico, princesa, cinderela. Usa
maquiagem que quando o senhor Cintra a vê, faz com que ela tire na hora.
Bruna
C. é doida por moda. Pega todas as revistas da dona Jussara e fica o dia todo
desenhando as figuras das modelos.
Naquele
dia vi quando o senhor Cintra trouxe a pasta executiva do trabalho. Acho aquela
pasta legal, porque tem uma trava de segurança onde se coloca uma senha, que se
você não souber os números, a pasta não abre. É como um cofre.
Mas
o senhor Cintra não usa senha deixando – a desprotegida para quem quiser ver o que
tem dentro.
Eu
sei por que vejo a Bruna – logo quando o pai chega do trabalho em que ele
coloca a pasta sobre a mesa de jantar e Bruna a abre facilmente, sem precisar
colocar a senha, nem nada.
-
Não mexe aí Bruna Cintra. Se o seu pai te pega... - eu aviso, antes que o pai
de Bruna pressente que ela esta ali revirando a pasta e dá a maior bronca nela.
-
Olha só Beto, que caneta. Não é bonita?
Muitas
vezes eu a vi fazer isso. Mas naquele dia foi diferente.
Bruna
foi para abrir a pasta executiva e não conseguiu. Dei risada que quase urinei
nas calças de tão engraçado que foi.
Ela
ficou nervosa... Tentou erguer a pasta, mas não conseguiu de tão pesada.
-
O que será que tem dentro dela?
Curiosa,
Bruna foi perguntar ao pai o que havia dentro da pasta.
-
Bruna desta vez você não conseguiu ver o que tem dentro?
-
O que tem dentro papai? Não consegui abrir. É aquilo que eu estou pensando?
-
É sim, mas parece que você não merece esse presente. Sua mãe reclama que você
não coloca as coisas no lugar: roupa jogada pelo corredor, seu quarto sempre uma
bagunça. Você não vai acreditar o que aconteceu comigo outro dia quando entrei
no seu quarto: levei um tropeção naquela raquete de tênis que quase, eu disse quase
dei de nariz no chão...
Quando
o senhor Cintra disse que havia tropeçado na raquete, me segurei para não rir.
Coloquei a mão na boca e saí de fininho porque eu sei que o bicho ia pegar
naquele instante.
-
Até amanhã Bruna, te vejo na escola.
-
Tchau, Beto.
Depois
que o amigo e vizinho da Bruna saiu porta afora dando boa noite a todos, o pai
de Bruna deu a ela um sermão e tanto.
-
E por falar em tênis, acho que vou cancelar as aulas porque sua mãe disse que a
senhorita não tem descido até à quadra para tomar aulas com o professor Vitor.
Você pensa que o meu dinheiro é capim?
-
Não - respondeu Bruna toda chorosa.
O
senhor Cintra sempre gostou de futebol, mas acha o tênis um esporte requintado,
feminino. Que o tênis, não é para qualquer pessoa, que não são todos que podem
aprender um esporte como este. E outra coisa, no condomínio tem uma quadra,
porque não aproveitar. Por isso colocou Bruna nas aulas achando que a filha
fosse gostar do esporte. Ele mesmo tomou umas aulas particulares.
-
E aí Bruna, você não diz nada?! – disse o pai - vamos jantar vai...
-
E o meu notebook? – perguntou Bruna.
-
O jantar está na mesa – gritou dona Jussara da cozinha.
-
Vamos jantar Bruna, depois a gente conversa – disse o senhor Cintra irado com
Bruna.
Depois
que todos jantaram, foram para a sala de estar. Dona Jussara ligou a TV para
assistir a novela e o senhor Cintra pegou a pasta executiva que estava sobre a
mesa e disse à Bruna, mostrando a pasta:
-
Eu gostaria que você soubesse um pouco mais sobre o esporte que eu tanto gosto.
Você sabia que uma tenista brasileira foi tricampeã em Wimbledon?
-
Não, não sabia? Só sei que o Guga comia muita banana nos torneios para não dar câimbras.
O
senhor Cintra ao ouvir o que Bruna disse, disfarçou para não demonstrar graça,
e ficou mais sério quando falou da senha.
-
Vai ser difícil você abrir essa pasta desta vez porque coloquei uma senha, e como
você tem tudo de mão beijada ...
-Como
assim? - perguntou Bruna sem entender nada.
-
Mão beijada, tudo fácil. Você tem de tudo e desta vez não vai ter moleza. Para
ganhar seu notebook, é preciso pesquisar.
-
Pesquisar o quê se eu não tenho meu próprio computador...
-
Se vira, usa o da escola. Na escola não tem biblioteca?
-
Tem. Que saco!
-
Então, a pesquisa é sobre Maria Esther Bueno e os anos em que ela foi
tricampeã. A pasta não vai sair daqui. Ela será sua depois que você souber a
senha que são os dois últimos números dos anos que Esther Bueno ganhou os
torneios.
Bom,
só sei que na semana seguinte, Bruna C. me contou sobre a brincadeira que o
senhor Cintra fez com ela.
-
Então, a senha de seis números foram os anos em que a Esther
Bueno ganhou
os torneios em Wimbledon na Inglaterra?
-
Isso mesmo Beto. Ele disse que só assim a gente aprende e que não é só praticar
o tênis mas saber sobre as vitórias conquistadas dentro deste esporte e quem
fez o esporte acontecer.
Bruna C. é uma pessoa
melhor: aprendeu que as coisas não são tão fáceis como se parecem. Prometeu não
fazer bagunça no quarto dela. Dedicou – se mais ao tênis tanto que participou
de campeonatos e recebeu medalhas. Mas o que ela gosta mesmo é de desenhar, tanto
que pretende entrar na faculdade de moda para ser uma consultora de imagem e personal
stylist.