segunda-feira, 19 de maio de 2014

Dois irmãos

Meu irmão Flávio chegou à nossa casa dizendo ter passado da casa dos irmãos Ronald e Diana para fazer uma visita. Realmente, há muito tempo não víamos os dois irmãos. Eu mesma passei muitas vezes por lá e ficava a tarde toda conversando com eles. Diana foi minha colega do ginásio ao colegial. Foi no vestibular que nos separamos. Eu optei pela área de humanas e ela queria medicina. Disse que queria ser médica neurologista, para cuidar melhor do pai que se encontrava com o Mal de Alzheimer, prometendo até descobrir a cura para essa doença tão ingrata, que gera graves transtornos à vida da pessoa trazendo sofrimento. Passou quatro anos de sua vida tentando passar no vestibular para medicina, mas o que conseguiu foi se formar como advogada. Seu pai - coitado - acabou mesmo, morrendo de dengue hemorrágica. Como a vida é engraçada.
Flávio, disse ter batido várias vezes à porta da casa e soubera através de vizinhos, que os dois irmãos não moravam mais ali, e que dona Veridiana mãe deles, havia falecido recentemente. Não fiquei contente com toda essa história. Fui lá pessoalmente num horário quase a tardezinha. Toquei a campainha e ninguém atendeu. O número do telefone – que eu havia tentado ligar por diversas - ninguém atendia. Esse número de telefone ficou durante anos na minha memória, também, era igual ao de casa, era só inverter os dois últimos números.
Cheguei à casa dos dois irmãos. Parecia abandonada.
A garagem toda empoeirada, estava cheia de
correspondências, folhetos de supermercado, pizzaria, jornal e revista do bairro. Lembrei – me de dona Veridiana. Ela, nunca aceitaria uma situação dessas, de completo abandono. Varrendo todo o tempo, deixava a casa sempre limpa. Num gesto impensado, coloquei a mão na maçaneta do portão. Estava revoltada com o que vi, e para minha surpresa, o portão se abriu. Outra coisa era o portão sempre trancado. Dona Veridiana tinha medo de ficar sozinha e zelava pela segurança dela e da casa.

Repeti o gesto na porta de entrada. Ela se abriu e encontrei uma casa vazia. Baratas andavam vagarosamente pelo chão da sala. Havia cheiro de mofo e esgoto por toda a casa. Papéis amassados outros rasgados, via – se que ninguém ia lá há algum tempo. Deu para ver que eram folhas de caderno e livros.
Abri a porta do quarto em que eu lembrei ser de Diana. Confidências foram trocadas ali entre mim e ela na nossa adolescência. Olhei para o chão. Estava repleto de fotos, e a primeira que eu peguei foi justamente aquela em que estávamos eu, Diana e Ronald. Fo tirada na festa de aniversário dela, quando fez dezoito anos. Levando – a comigo sobre o peito, encostei a porta. Senti naquele instante que meus olhos estavam cheios de lágrimas.
Contei o que vi para o Flávio, e disse:
- Vamos à delegacia, precisamos de respostas. Parece que ninguém sabe de nada. Não conhecemos nenhum parente?! Tem aquela prima dela, mas não sei onde mora. Fica difícil saber o que realmente aconteceu.
No dia seguinte antes de ir para o serviço, Flávio passou enfrente à casa dos dois irmãos, quando viu uma placa supostamente colocada pela imobiliária. A casa estava à venda. Ele pegou o celular e na mesma hora disse ter ligado para a imobiliária.
Soubemos que os irmãos foram para o sul da Inglaterra, por conta de uma herança onde ficariam milionários, e assim não voltariam para o Brasil.
- Pois é, good bye, bye, bye – dissemos eu e Flávio ao mesmo tempo em que caímos na gargalhada.