quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Tic Tac


Meu pai tinha muitas fazendas no interior de Goiás, e com a queda da bolsa de valores, perdeu todos seus bens. Assim como muitos, outros se suicidaram.
Pelo desgosto e com depressão, meu pai adoecera e veio a falecer. Minha mãe ficou com quatro filhos para criar. Gostava de cuidar dos jardins da casa da fazenda, mas precisou trabalhar com costuras, e bordadeira de mão cheia como era, sustentava os filhos.
Eu era o filho mais velho com 19 anos de idade. Fui trabalhar também. E as regalias que tive a mais do que meus outros irmãos em se tratando de estudos, comecei a trabalhar num escritório de contabilidade do amigo de meu pai. Tinha a caligrafia e datilografia, o que muito me ajudou. Pretendia ser advogado.
Minhas duas irmãs trabalharam de faxineiras em casa de família, mas conhecidas no povoado da fazenda, casaram – se com ricos fazendeiros e estão bem até hoje. Eu, minha mãe e meu irmão caçula, deixamos a casa da fazenda e fomos morar numa outra cidade, no interior mesmo de Goiás. Logo casei e fui trabalhar com meu sogro, que tinha um empório. Minha mãe cuidou do meu irmão caçula que pegou uma meningite e veio a falecer. Ela morreu de velhice.
Já não tenho mais, a lembrança que ficou em todos esses anos, do Tic Tac do relógio pendurado na parede da sala de jantar da casa da fazenda. Morri por causa de um enfarte.
Como meu pai, deixei mulher e filhos.
- O que se pode fazer? A vida termina para todos, seja rico meu pai foi, seja pobre como eu fui.



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