Desde criança os pais de Fabíola levavam - na para passar as
férias escolares na praia da Enseada no Guarujá, litoral de São Paulo.
Os tios Alfredo e Mariana adoravam quando Fabíola chegava
toda alegre vestida no seu maiô preto de nadadora. Saia do carro, e a primeira
coisa que falava:
- Vamos nadar?
Fabíola nem sabia nadar direito e o mar sempre foi um lugar
perigoso. Mas foi no mar que ela aprendeu a dar suas primeiras braçadas. Tá
certo que uma vez ela quase se afogou. Bateu uma onda muito forte virando
Fabíola de cabeça para baixo. Se não fosse eu estar perto dela e agarra – lá, nem sei...
Ficamos um bom tempo sem nos vermos, e Fabíola não procurou
saber como eu estava. Sabia a respeito dela indo algumas vezes ao apartamento
dos tios Alfredo e Mariana. Era assim que os tratava carinhosamente, como se
fossem meus tios.
Mas, voltando a falar do tempo, muitos anos se passaram.
Fiquei noiva e me casei. Meus pais foram morar na capital e eu fiquei aqui
mesmo, morando no Guarujá.
Grávida do meu primeiro bebê, nesta mesma época, Fabíola
reapareceu. Era quase uma mulher. Lembrei-me de quando íamos tomar sorvete no
centrinho. Fabíola era uma menina mimada.
Soube que sua mãe, dona Odete, morrera de doença grave, e
devido à enfermidade não pudera comparecer na última competição em que ela
bateu o recorde dos 100 metros nado
livre, faturando a medalha de ouro.
Fabíola foi campeã por diversas vezes nesta modalidade.
Participava de vários campeonatos entre clubes e competições fora do país.
Chegou a participar de uma Olímpiada, certa vez.
Tudo isso me contou quando veio me mostrar a medalha de ouro.
Coisa mais linda a medalha com fita nas cores azul e branca.
Estávamos na praia quando ela se levantou e encaminhou – se
até a beira do mar. Arremessou a medalha com força na água e com raiva também,
provavelmente lembrando-se do fato da sua mãe não ter podido ir à competição
para vê - la chegar ao primeiro lugar e pedindo naquele instante ao mar, que levasse
a medalha para bem longe dali.
Fabíola foi embora. Achei que tivesse compreendido o seu ato.
No dia seguinte, andando a beira da praia, vi algo dourado
brilhando na areia. Com uma das mãos, tentei desenterrar para ver o que era.
Para minha surpresa, era a medalha de Fabíola.
Lembrei-me dos finais de tarde em que a mãe de Fabíola
trazia a filha para dar “umas braçadas” no mar. Mãe zelosa, dona Odete esperava
– a com a toalha nas mãos, para poder enxugar os cabelos compridos que Fabíola
– eu não sabia como – conseguia enfiar dentro da tôca feita de borracha. Dona
Odete nesta época tratava Fabíola como uma campeã. O mar foi e devolveu a
medalha parecendo ter visto isso tudo.
Fui até a capital devolver a medalha de ouro pessoalmente à
Fabíola.
- Rose, nem sei como agradecer, e obrigada por você lembrar da minha mãe – disse dando – me um forte abraço.
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